Noticia: Depois da descoberta arqueológica, Coriscada quer um museu

>> sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O sítio arqueológico de Vale do Mouro veio introduzir novas prioridades na freguesia de Coriscada, no concelho de Mêda. As descobertas feitas no local, nos últimos anos, têm surpreendido a povoação e o Concelho, mas o Centro Sócio-Cultural da Coriscada quer mais, defendendo a criação de um museu na aldeia e a musealização do sítio onde as escavações permitiram chegar a vários achados, como balneários romanos, um painel de mosaico policromático com a imagem de Baco e um tesouro com cerca de cinco mil moedas.

"Que tipo de projecto é que se quer para o sítio do Vale do Mouro; qual o seu futuro; como vai ser gerido; vai ou não haver museu na Coriscada?”. São estas as questões que o presidente do Centro Sócio-Cultural local quer ver respondidas e definidas. António Moreira defende a execução de um projecto de musealização para o sítio arqueológico do Vale do Mouro e a criação de um espaço museológico na freguesia.
O dirigente diz que há muitos pontos de interrogação à volta desta matéria, considerando necessário saber “se se vai continuar a investigar antes de haver um projecto de musealização ou se se decide avançar já para esse projecto”. “É fundamental que o poder político dê resposta a estas questões”, adianta.
António Moreira não tem dúvidas de que o Vale do Mouro “é uma grande marca no campo da arqueologia” e para a freguesia, que espera que o património descoberto seja destacado num museu na localidade. “A musealização do espaço e a criação de um museu são dois pontos importantes para nós. Mesmo que nos chamem bairristas, vamos querer que o museu seja implementado na Coriscada”, salienta, acrescentando: “Se queremos valorizar o Vale do Mouro, temos que ter um projecto rapidamente e avançar com ele”.
Manifestando algum inconformismo, o presidente da associação afirma que “há ainda muitos passos a dar”: “Se por um lado estou satisfeito com a descoberta do Vale do Mouro, por outro contava que, ao comemorarmos 25 anos, houvesse passos mais consistentes”.
O mesmo responsável acredita numa maior abertura por parte do actual executivo camarário, presidido por Armando Carneiro, do qual espera respostas concretas para que o projecto avance.

Aquisição de terrenos
Em relação aos terrenos onde se deu maior parte dos achados, António Moreira revela que a escritura ainda não foi feita, mas está para muito breve. “Estamos em condições de fazer a escritura. Vai ser feita em nome da associação, mas isso não quer dizer que essa questão não possa a vir a ser repensada. Há outros terrenos já em fase de negociação e, se o projecto assim o exigir, poderão passar para nome da Câmara”, diz. Isto, porque a associação “tem consciência de que não tem capacidade financeira para avançar com o projecto”.
A área total adquirida corresponde a três hectares, há mais um hectare em vias de ser adquirido, e o terreno já intervencionado aproxima-se dos dois hectares.
O Centro Sócio-Cultural salienta a importância de proceder à legalização dos terrenos, mas também de ser feita a classificação do sítio a nível nacional, um processo que deseja ver concluído.
"Se queremos musealizar, é necessário adquirir terrenos”
O coordenador do projecto de arqueologia no Vale do Mouro, António Sá Coixão, gostava que outros terrenos já tivessem sido adquiridos, por forma a avançar com as pesquisas nesses locais. “Não sei se há inércia, se há má vontade”, diz, adiantando que já alertou o presidente da Câmara e o Centro Sócio-Cultural. “Se queremos musealizar, é necessário adquirir terrenos”, reforça.
Sobre o Vale do Mouro, o presidente da Câmara Municipal de Mêda, Armando Carneiro, garantiu o empenho da autarquia na preservação e valorização do património, “dentro das possibilidades”.

A intervenção e os achados
Os primeiros anos de trabalhos centraram-se na zona do balneário romano e em 2006 foi descoberto um painel de mosaico policromático, figurando o Deus Baco junto de uma Menade, antes nunca encontrado em regiões interiores de Portugal. No último dia de campanha de 2007 fez eco na imprensa nacional e estrangeira uma descoberta 'endinheirada' de um tesouro monetário, provavelmente envolto num saco, tendo sido encontrado um resto de tecido que surpreendeu os arqueólogos pela sua sobrevivência.
Estas descobertas atestam bem a importância histórica do sítio de Vale do Mouro. Um lugar que terá sido uma zona de habitação, composta por fornos, lagares, área de fundição, um triclínio (sala de jantar aquecida), sendo ali encontrados mosaicos, bem como materiais com mais de sete mil anos em sílex e quartzo, sinal de que nas imediações devem existir cabanas neolíticas. Foi também encontrado material da Idade do Ferro anterior à ocupação romana.
De referir que o mosaico com a imagem do Deus Baco está em Conímbriga e os restantes achados encontram-se em Freixo de Numão, devidamente catalogados.

ESCAVAÇÕES REALIZADAS ESTE ANO POR JOVENS DE NOVE PAÍSES
As escavações arqueológicas no Vale do Mouro prosseguiram este ano com a realização de mais um campo de trabalho internacional, organizado pelo Centro Sócio-Cultural da Coriscada entre 26 de Julho e 9 de Agosto. Um projecto apoiado pelo Instituto Português da Juventude (IPJ), em que participaram 20 jovens de nove países, nomeadamente Rússia, Sérvia, Coreia do Sul, Alemanha, República Checa, Itália, Canadá, Reino Unido e Portugal.
Além dos trabalhos de pesquisa arqueológica, os jovens tiveram ainda oportunidade de visitar alguns pontos de interesse do Concelho e da região.
O presidente do Centro Sócio-Cultural aproveitou a visita, na quinta-feira, dia 5, do director regional do IPJ à Coriscada para dizer que só organizará um campo internacional em 2011 se estiverem garantidas outras condições, que passam por uma melhoria das instalações junto ao campo desportivo para alojamento dos jovens.

CENTRO SÓCIO-CULTURAL COMEMORA 25 ANOS
Fundado em 1985, o Centro Sócio-Cultural da Coriscada, no concelho de Mêda, completa este ano o seu 25º aniversário, registando actualmente um total de 456 sócios. As comemorações irão acontecer em Outubro, no dia 2, altura em que serão distinguidos os sócios inscritos há 25 anos e algumas instituições que têm colaborado com a colectividade. Além disso, o presidente, António Moreira, fará também um balanço da actividade da associação, que dirige há dez anos.
António Moreira diz que é tempo de entrar num novo ciclo, não querendo para já adiantar mais nada. “Considero que há necessidade de uma nova etapa na vida da associação. Há eleições também no próximo ano, que eu prevejo que tenham que ser antecipadas, por razões que também não posso revelar neste momento”, adianta.
O presidente do Centro Sócio-Cultural destaca a aposta feita nos últimos anos em termos de infra-estruturas, nomeadamente o campo desportivo “Paz e Amizade”, junto às Piscinas da aldeia, e a electrificação do polidesportivo, o qual ainda se encontra em condições “precárias”, como admite António Moreira. O dirigente adianta que anda “a batalhar há dez anos para que haja uma remodelação” naquele espaço, mas até agora essa intervenção ainda não foi executada.
A nível cultural, uma das apostas foi na manutenção do Rancho Folclórico, a que se junta o importante empenho no campo da arqueologia, que dura já desde 2000 ou 2001, com mais esforço e conhecimento desde 2003. Segundo António Moreira, neste ano, as escavações arqueológicas no Vale do Mouro foram iniciadas através de uma parceria com a Associação Cultural, Desportiva e Recreativa (ACDR) de Freixo de Numão, presidida pelo arqueólogo António Sá Coixão, com a colaboração de um grupo francês. De há quatro anos a esta parte passaram a ser realizados campos de trabalho internacionais, com a participação de jovens de vários países.

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