Noticia: Autarquia desvaloriza interesse de azulejos antigos destruídos

>> terça-feira, 13 de outubro de 2009


Painel azulejar da fábrica Aleluia não foi poupado a demolição de imóvel da cidade. Município e ADERAV divergem no valor da imagem.

A Associação para o Estudo e Defesa do Património de Aveiro (ADERAV) responsabilizou a Câmara local pela “falha de extrema gravidade”, quando poderia ter activado os meios de salvaguarda ao dispor, nomeadamente no banco de azulejo. 



O conjunto em causa era uma invocação de Nossa Senhora da Conceição, pintado na centenária fábrica Aleluia, em Aveiro, durante a década de 40 do século XX para comemorar o tricentenário da proclamação da Padroeira de Portugal, existindo ainda vários exemplares da série na região. 

A pequena imagem em azulejos de cinquenta centímetros integrava a fachada de um edifício devoluto adjacente à capela do Seixal, na Rui Guilherme Gomes Fernandes, no centro da cidade. 





A destruição do conjunto “traduz uma chocante falta de sensibilidade pelo património azulejular municipal”, lamentou a ADERAV, atribuindo responsabilidades à Câmara local. 

Em resposta, o vice-presidente da Câmara, Carlos Santos, alegou que a demolição da casa “já estava prevista num estudo urbanístico” que mereceu parecer favorável do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR). 

“Em nenhum momento se levantou o interesse do painel em causa”, garantiu o vereador, adiantando que decorrem averiguraões no sentido de apurar se a peça estaria inventariada. 

Segundo uma moradora próxima, a demolição da casa “era reclamada há muito pela vizinhança” descontente com “recorrentes” actos de vandalismo e mesmo ocupação para actividades indesejadas, incluindo consumo de droga. 

“Chegaram a pegar fogo, pondo em risco as nossas casas”, contou a mesma mulher. 

Os pedidos insistentes de demolição encontraram finalmente eco junto da Câmara que terá avançado depois de receber a autorização IGESPAR. 

A única condição imposta foi não afectar a capela do Seixal, contígua ao prédio, mas as máquinas, inadvertidamente, acabaram por danificar uma parte do telhado que terá agora de ser reparado. 

Os funcionários “tentaram também retirar o azulejos mas estava demasiado preso”, contou a vizinha.

 A Casa do Seixal, onde se integra a capela, é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro que planeia fazer obras de restauro para acolher valências sociais. 

O conjunto está classificado como imóvel de interesse público, encontrando-se abrangido por uma zona de protecção desde 1997 que aplica condicionantes a qualquer tipo de intervenção numa área de 50 metros. 

"O mais importante neste momento é que, caso não haja recuperação possível, sejam tomadas medidas para que não se repitam situações como a presente", apelou a ADERAV, deixando ainda uma nota de preocupação com o aumento de casos de fachadas de interesse patrimonial em Aveiro, uma das suas marcas culturais, que começam “a ficar deploravelmente desprovidas de azulejos”.


Noticias de Aveiro 07-OUT-2009

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