Noticia: Acesso à arte mais caro

>> segunda-feira, 22 de março de 2010

Museus do Estado já praticam novos preços. Nos monumentos, será a partir do dia 1 de Abril.
Há oito dias entraram em vigor os novos preços para acesso a museus e palácios tutelados pelo Ministério da Cultura. A 1 de Abril, passa a vigorar uma nova tabela para entrada noutros monumentos também geridos pelo Estado, como o mosteiro dos Jerónimos.
Em Janeiro último, Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura, manifestou publicamente a sua intenção de criar condições para tornar gratuitas as entradas nos museus e monumentos nacionais. "É o meu sonho tornar possível a entrada gratuita aos visitantes residentes em Portugal, assim que eu conseguir financiamento paralelo que possa cobrir as receitas dos bilhetes", garantiu, então, à agência Lusa.
Dois meses volvidos, entrou em vigor a nova tabela de preços para espaços geridos pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e, em breve, o mesmo irá passar-se com monumentos dependentes do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR). Os motivos, segundo despacho do secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, residem em dois factores: o aumento generalizado dos custos de funcionamento e as intervenções de qualificação entretanto ocorridas. A última alteração das tarifas tinha sido feita em 2008.
Além de não se aplicarem a todos os casos, de uma maneira geral os aumentos são pouco significativos. Veja-se o caso do Panteão Nacional, gerido pelo IGESPAR, cujo bilhete vai aumentar 50 cêntimos. Entre os locais dependentes do mesmo instituto, a alteração mais relevante diz respeito ao Parque Arqueológico do Vale do Côa (cujo museu vai abrir em breve), onde o bilhete aumenta 1,5 euros. Igualmente na dependência do IGESPAR, monumentos como os mosteiros dos Jerónimos, da Batalha e de Alcobaça ou a torre de Belém sofrem o agravamento de 1 euro (ver tabela acima).
Sete escalões para museus
Já os museus e palácios dependentes do IMC estão a praticar novos preços há uma semana. As estruturas estão divididas em sete escalões de tarifas, sendo a mais elevada de 7 euros e a mais baixa de 1,5. Museus como o de Arte Antiga, o de Arqueologia, o dos Coches (o mais visitado dos estatais), todos em Lisboa, ou de Soares dos Reis, no Porto, cobram um bilhete de 5 euros.
"Não creio que esse aumento vá ter implicações no número de visitantes", diz ao JN Isabel Silva, directora do Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, espaço que, curiosamente, não é abrangido pela subida de preços. Além de considerar que "o aumento não é significativo", aquela responsável refere que "houve uma qualificação dos museus nos últimos anos e este ajustamento corresponderá também a essa qualificação e à melhoria da oferta que é posta à disposição do público".
Também Maria João Vasconcelos, directora do Museu Nacional Soares dos Reis, acredita que a medida "não vai ter grandes repercussões, porque o bilhete dos museus tem muitíssimas reduções, que vão manter-se". Além de que, em geral, as visitas ao domingo de manhã são gratuitas.
O "Soares dos Reis", que em 2009 passou a fasquia dos 60 mil visitantes, tem registado um aumento de grupos nas manhãs de domingo e isso, afirma a directora, é "claramente por ser gratuito". Maria João Vasconcelos defende que o ideal seria alargar a gratuitidade a todo o fim-de-semana, mas ressalva: "Não sei se seria viável prescindir de alguma receita que há ao fim-de-semana e que é muito importante para os museus".
Gratuitidade deve ser excepção
O presidente da Associação Portuguesa de Museologia, João Neto, concorda com a subida de preços e lembra que o Museu da Farmácia, de que é director, aumentou o número de visitantes quando passou a cobrar bilhete. No seu entender, "a gratuitidade pode existir, mas em casos excepcionais" e, por outro lado, deve "haver todo um conjunto de preços especiais que permitam a acessibilidade de todos".
Casos como o da Tate Modern e o da National Gallery, em Londres, espelham a tendência de tornar gratuitas as visitas às colecções próprias, cobrando apenas o bilhete para as exposições temporárias. Em Portugal, são raras as situações como a do Museu Colecção Berardo, de acesso sempre gratuito.

http://jn.sapo.pt 

1 comentários:

Dylan 6 de maio de 2010 às 23:49  

Penso que os recentes aumentos para o acesso a museus e outros monumentos geridos pelo Estado é uma castração cultural, num país demasiado "futebolizado" e enredado em novelas televisivas. Bem sei que, comparando os preços com países como a França e a Espanha, a diferença não é muita, o problema é o nosso nível de vida ser mais modesto, ainda para mais numa época de recessão económica. E se a desculpa para esse aumento for as recentes intervenções de qualificação em alguns monumentos, uma breve deambulação pelo país demonstra a incúria dos governantes perante tanto património votado ao abandono e que envergonha a nossa extraordinária herança cultural.

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