Noticia: Alandroal quer recuperar o culto endovélico

>> quinta-feira, 17 de junho de 2010

Município aposta em projectar importante legado histórico como produto turístico

Regressar a um passado longínquo, onde um dos mais conhecidos deuses da Lusitânia foi venerado, é o desafio da Câmara Municipal de Alandroal, no distrito de Évora. A iniciativa Por Terras do Endovélico visa recuperar este legado histórico e afirmá-lo como um produto turístico.

Eventos culturais, desportivos e de lazer, como música celta e cinema, palestras sobre a temática e ainda uma mostra gastronómica, destacando algumas receitas e ingredientes da época, serão alguns dos atractivos da iniciativa. Estão ainda previstos descontos no alojamento em unidades hoteleiras aderentes, possibilitando a todos os visitantes pernoitar no concelho "plantado à beira do Alqueva", como nota o presidente da autarquia, João Grilo, acrescentando que, assim, se poderão desvendar "os últimos segredos que o Alandroal tem ainda por revelar".

A partir de 19 de Junho, durante nove dias consecutivos, vai ser possível realizar percursos pedestres de visita aos locais que pretendem mostrar um pouco da rota da antiga peregrinação pré-clássica, acompanhar o trabalho dos arqueólogos que estudam a divindade. Segundo o autarca, a iniciativa permitirá "apreciar locais de rara beleza paisagística e de relevante interesse histórico como são a Rocha da Mina e o Santuário de São Miguel da Mota", alegados espaços do culto endovélico.

O presidente da câmara explica querer relançar este tema não só para atrair novos visitantes, mas também junto da comunidade local. "Entendemos que é importante que também dentro do concelho haja um maior conhecimento e uma maior apropriação desta veneração que tivemos no passado e que, hoje, está afastada do imaginário dos nossos munícipes, apesar de ser um dos nossos factores identitários", sublinhou.

A adoração endovélica, que teve o seu apogeu há dois mil anos, foi-se perdendo e transformando pela cultura cristã, mas algumas manifestações mais pagãs permaneceram, embora de forma muito residual. Segundo João Grilo, toda a zona de São Miguel da Mota e da ribeira do Lucifécit tem um imaginário, uma religiosidade e uma espiritualidade muito próprias, que "passou para as pessoas que vivem no concelho e que ainda está patente em algumas das manifestações culturais" da região. Embora admitindo ser um pouco especulativo, o presidente do município avança existirem vestígios de uma importante peregrinação a São Miguel da Mota a pretexto do culto endovélico, "que inclusivamente atraía pessoas de Mérida". E aponta a curiosidade de se manter no concelho uma peregrinação, desta vez católica, ligada à Senhora da Boa Nova que ainda hoje é uma das mais importantes manifestações e romarias do Alentejo.

Tendo em conta a aposta neste elemento cultural diferenciador, a autarquia está a preparar, juntamente com o Museu Nacional de Arqueologia, uma exposição conjunta do espólio encontrado nas escavações arqueológicas no monte de São Miguel da Mota, prevendo-se que a mostra possa vir a ser visitada em Lisboa e no Alandroal.

0 comentários: