Noticia: Grandes limitações nos serviços de apoio aos visitantes, Museu do Côa com grande afluência apesar dos problemas

>> sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Até ao final da manhã da passada quinta-feira, já tinham passado mil visitantes pelo Museu do Côa, que abriu no passado dia 30 de Julho. Cada entrada custa cinco euros. A afluência tem sido grande, com uma média de mais de 200 pessoas por dia, superando as melhores expectativas.

Mas, como o PÚBLICO pôde constatar no local, alguns visitantes ficam surpreendidos por encontrarem um museu ainda com grandes limitações no seu funcionamento. O restaurante continua fechado (no concurso que foi aberto, não apareceu nenhum interessado na exploração, devido ao elevado preço pedido para a sua concessão) e o bar também. Apesar do calor, não é possível comprar sequer uma garrafa de água. Há sistemas de apoio ao visitante, como a utilização de áudio-guias, ainda por estrear e o serviço do museu está a ser assegurado pelos mesmos funcionários que já trabalhavam no Parque Arqueológico. A vigilância de salas e outras tarefas são asseguradas por arqueólogos, guias e desenhadores, com prejuízo para o trabalho de campo. Alexandra Cerveira Lima, a directora do Parque Arqueológico do Côa, e que está a assumir transitoriamente a gestão do museu, elogia a disponibilidade de todos os funcionários para trabalharem "a mil à hora". Devido à falta de funcionários, o museu tem funcionado com horário de função pública. Fecha durante a hora de almoço e encerra às 17h30. O pessoal não dá para mais, lamenta a directora. O dia de encerramento é à segunda-feira, como acontece com todos os museus em Portugal.

Para funcionar em condições aceitáveis, seriam necessárias no mínimo mais 10 pessoas. "Não é possível carregar num botão e meter dez pessoas", diz Gonçalo Couceiro, o director do Igespar, recordando as restrições à contratação de pessoas para a administração pública. O Governo delegou esse recrutamento para a Fundação Côa Parque, a entidade que vai gerir e coordenar o museu e o parque arqueológico do Côa.

O problema é que ainda ninguém sabe como vai funcionar essa fundação, que não possui sequer estatutos. A sua criação foi decidida em Conselho de Ministros na véspera de inauguração do museu, para surpresa geral, pois, durante muito tempo, foi dito que o museu e o parque iriam ser geridos por uma sociedade anónima, mais ou menos igual à que gere os parques de Sintra. Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete da ministra da Cultura informou que o procedimento legislativo vai agora decorrer os seus termos, mas "cuja conclusão não é neste momento previsível". Até lá, o museu continuará sob a tutela do Igespar.

Ninguém compreende que o Governo tenha esperado pela inauguração do museu para decidir criar uma fundação, quando dispôs de quase seis anos para o fazer, o tempo que o edifício levou a construir. "É um desleixo demasiado grave", critica Mafalda Nicolau de Almeida, membro da direcção da Acôa - Associação de Amigos do Parque e Museu do Côa, que tem estado a tentar angariar voluntários para o museu. "O Côa já tem uma história tão polémica e o parque já funciona de forma tão precária [continua por criar formalmente] que o museu era a grande oportunidade de atrair de vez a população a este projecto. Já não havia espaço para errar mais uma vez e foi isso que aconteceu", lamenta.

O museu não abriu nas melhores condições, mas Couceiro assegura que seria muito mais gravoso adiar a inauguração. "A tecnologia museológica fica obsoleta rapidamente e não podíamos adiar por mais tempo a abertura deste museu, que tem equipamentos e software de 2007", justifica. E, depois, acrescenta, "inaugurar um museu não é o mesmo que inaugurar uma estátua. Um museu é um ser vivo, está em permanente mudança". 

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