Noticia: Museu do Côa abre e fundação gere património

>> sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O museu cruza a arte paleolítica com outras formas de expressão.  

O museu cruza a arte paleolítica com outras formas de expressão

O museu está pronto, a expectativa é muita, mas as dúvidas também. E nem a decisão de ontem do Conselho de Ministros de constituir a Côa Parque - Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Côa, entidade que ficará encarregada de "gerir e coordenar" o novo museu, situado em Vila Nova de Foz Côa, e o Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), parece resolver todas as dúvidas em volta do projecto.

Caberá à fundação "promover a salvaguarda, conservação, investigação, divulgação e musealização da arte rupestre e demais património arqueológico, paisagístico e cultural". À saída do Conselho de Ministros, Gabriela Canavilhas classificou a nova fundação como "uma estrutura autónoma" que visa "congregar as estratégias" para o desenvolvimento sustentado da região do Douro.

Mas não é claro, por exemplo, se o parque arqueológico, com os seus cerca de 20 mil hectares, terá um enquadramento institucional como área protegida a partir desta fundação. E não se sabe quais são as entidades que vão integrar a fundação e de que meios vai ela dispor para gerir o património - durante a tarde de ontem, não nos foi possível esclarecer estas e outras dúvidas junto do Ministério da Cultura, cujos responsáveis estavam já a caminho do vale do Côa. Também a directora do PAVC, Alexandra Cerveira Lima, que passou o dia na preparação da inauguração do museu, não detinha ainda informação actualizada sobre o assunto.

Para já, o museu abre sob tutela do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) e gerido pela equipa de Alexandra Cerveira Lima, cuja comissão de serviço termina em Setembro.

Seria preferível ter esperado até haver uma maior definição? Ou era insustentável continuar a adiar uma inauguração anunciada há mais de um ano?

"Ainda não conheço o modelo, mas vejo com bons olhos a criação de uma fundação que congregue o parque e o museu", disse ontem o chefe da equipa de investigadores do parque, António Martinho Baptista.

"Houve um primeiro momento, em 1995, que foi o da polémica, depois o da investigação mais aprofundada - identificámos 950 rochas com arte rupestre, descodificámos o pensamento paleolítico através desta arte. E depois há a construção do museu, que é o culminar de um processo de apresentação, explicação e até de justificação por não se ter feito a barragem", dizia-nos o arqueólogo há duas semanas, quando visitámos o novo museu e o parque.

A história de Dalila Correia é exemplar. Andava no 12º ano, em Foz Côa, quando rompeu a polémica. "Andei a gritar "as gravuras não sabem nadar"", recorda. Depois fez o curso de guia de arte rupestre, o curso de Arqueologia no Porto e é hoje uma das arqueólogas do parque.

Mas nem todos em Vila Nova de Foz Côa são tão entusiásticos. A população esperou que primeiro a barragem e depois, em lugar desta, o parque trouxessem o tão desejado desenvolvimento - visitantes, turistas, dinheiro, auto-estradas, o fim do isolamento -, e agora ninguém quer deitar foguetes antes da festa. No restaurante Dallas, Filomena, a proprietária, admite que talvez seja desta, com o museu, que aumentem os visitantes, mas confessa que ela própria nunca foi ver as gravuras paleolíticas. A cabeça branca de D. Ilda, a cozinheira, espreita pela porta. Ela sim, foi ver as gravuras, "logo no início", mas foi a pé, de saltos altos e "nunca mais lá chegava". E quando chegou não viu "nadinha".

De facto, não é fácil ver as gravuras sem ajuda. Por isso é que o parque faz visitas com jipes e guias - oito pessoas por cada jipe, uma visita de duas horas ou mais, com explicações que contextualizam o que se vê. Este modelo, que, sublinha Dalila Correia, permite a preservação das gravuras, do ambiente e oferece uma visita personalizada, significa, por outro lado, que o número de visitantes tem rondado os vinte mil por ano. Abaixo das expectativas de muitos em Vila Nova, mas não exactamente dos arqueólogos.

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