Noticia: Dentes do fóssil encontrado em Leiria dão forma ao passado

>> sábado, 9 de janeiro de 2010

Cientistas voltam a estudar o menino do Lapedo, o fóssil de uma criança com 30 mil anos descoberto em Portugal em 1998



O menino do Lapedo tinha dentes incisivos iguais aos dos neandertais e molares semelhantes aos dos homens modernos. O fóssil descoberto em 1998 no Abrigo do Lagar Velho, na região do vale do Lapedo, Leiria, voltou a ser estudado por uma equipa internacional de investigadores. As conclusões vêm consolidar a tese da miscigenação entre o homem de Neandertal e o Homo sapiens, que terá acontecido há cerca de 35 mil anos. Esta corrente propõe o cruzamento destas subespécies como a origem do homem actual.

O resultado da nova análise foi publicado esta semana na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS). Os peritos centraram-se desta vez na dentição, encontrada praticamente intacta.

Através de técnicas de microtomografia, semelhantes às TAC utilizadas na medicina mas com uma resolução dez a 100 vezes superior, a análise liderada pelo Museu Nacional de História Natural de França procurou perceber a estrutura interna dos dentes da criança com 30 mil anos encontrada em Portugal há 11 anos. João Zilhão, um dos investigadores por detrás da descoberta do fóssil e que também participou neste estudo, explica ao i que foi analisada a maturação da dentição durante a infância, uma vez que o menino do Lapedo é dos poucos fósseis conhecidos com dentes de leite e dentes definitivos - na altura da morte estaria no quinto ano de vida. "Concluiu-se primeiro que alguns aspectos da dentição são desconhecidos nas populações humanas actuais e são iguais nos neandertais", explica Zilhão, professor de Arqueologia Paleolítica na Universidade de Bristol, no Reino Unido. "Noutros aspectos são idênticos ao que se conhece em alguns homens modernos do Paleolítico Superior, com 12 a 15 mil anos de idade", adianta.

Contudo, o principal contributo é a consolidação de uma história da evolução que inclua o cruzamento proposto por vários académicos. "Só podemos avaliar probabilidades, e todos os resultados são cada vez mais a favor de que a miscigenação aconteceu", diz.

Sisos desaparecem O menino do Lapedo é um dos poucos fósseis que permitem o estudo do desenvolvimento da dentição nos homens modernos.

Para João Zilhão, as leituras acabam por poder ser transportadas para o presente: "A tendência para a diminuição do tamanho dos dentes, conhecida hoje em muitas populações urbanas, e até o desaparecimento dos sisos, são provavelmente o reflexo no presente de uma tendência evolutiva de longo prazo", explica. "As mudanças na alimentação, por exemplo, têm impacto no esqueleto. Já víamos isso acontecer no passado, e é em boa parte a razão pela qual as dentições dos neandertais de há 100 mil anos são diferentes das de há 10 ou 20 mil anos."

0 comentários: