Noticia: Baixa Pombalina, estado dos edifícios é um mistério, mas é possível adaptá-los

>> quinta-feira, 17 de junho de 2010

“O estado atual da Baixa é um mistério, ninguém sabe como aquilo está nem como reagirá ao sismo”. A frase é do diretor municipal de conservação e reabilitação urbana e espelha bem a dificuldade em apurar os perigos para conseguir adaptar os edifícios antigos à vida moderna.
“É daqueles mistérios que pouca gente ou ninguém sabe”, disse à agência Lusa Jorge Catarino, explicando: “ao longo dos anos foram feitas alterações aos edifícios, umas legais outras ilegais”.
O responsável falava à Lusa a propósito da abertura do período de discussão pública do Plano de Pormenor (PP) da Baixa Pombalina, que se prolonga até 15 de julho.
O diretor municipal de conservação e reabilitação urbana reconhece que de edifícios pombalinos originais “já nada existe” e dá o exemplo da intervenção do Banco de Portugal no quarteirão da Igreja de S. Julião para mostrar que fazer obras na Baixa não é tarefa simples.
“Esta intervenção é das poucas que abrange um quarteirão inteiro. O Banco de Portugal foi comprando os edifícios e fazendo as obras nos anos 60, 70 e 80, socorrendo-se de maneiras diferentes de intervir e diversos materiais como o betão o ferro, o aço e, nalguns casos, preservou madeiras. Viram-se aflitos para perceber como o quarteirão ia resistir aos sismos e tiveram de deitar abaixo algumas coisas”.
Para Jorge Catarino, “uma das virtudes” deste plano é “permitir algumas obras” que ajudam a adaptar os edifícios aos tempos modernos e que, apenas com o Plano Diretor Municipal (PDM) não eram permitidas”.
“Só se podia fazer obras de manutenção e conservação e isso acabou por ajudar a deixar definhar a Baixa”, afirmou, recordando que o PP propõe que se aproveite cada intervenção para estudar o comportamento do edifício e fazer relatórios tendo em conta a vertente sísmica e patrimonial. Tudo com o acompanhamento do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).
Como exemplos de obras permitidas, Jorge Catarino aponta a instalação de elevadores nos saguões de alguns edifícios e alguma abertura para instalar painéis solares, ainda que poucos.
“A Baixa não tem logradouros, tem saguões fininhos, e uma das propostas é aproveitar esses saguões para áreas técnicas para ares condicionados, tubagens de restaurantes e também para a instalação de elevadores”, explicou.
“Se há alguns edifícios onde no meio pode haver elevadores, há outros em que dado o valor patrimonial a Câmara não aceita e nesses propomos que se aproveitem os saguões para instalar elevadores. Aliás há já vários casos destes licenciados recentemente”, acrescentou.
Jorge Catarino dá também o exemplo dos painéis solares, revelando que está a ser estudada com o IGESPAR e a agência municipal de energia a possibilidade de elaborar uma carta para as energias sustentáveis, onde se indicará quais são as coberturas onde se poderá instalar estes equipamentos.
“Serão muito poucos”, avisa.
“A baixa é vista de muitos sítios da cidade (…) e parece que encher as coberturas de painéis solares é um disparate. Mas com alguns novos materiais, isso é possível. Há agora uns novos painéis em forma de telha que acabam por passar despercebidos”, disse.
Quanto aos erros cometidos no passado e que terão de ser corrigidos, como a instalação de aparelhos de ar condicionado nas fachadas, o responsável avança: “a autarquia tem vindo a intimar alguns proprietários para que os retirem e a resposta tem sido muito positiva. Na cobertura é que é mais complicado”.
Sobre as mudanças que todas estas obras podem introduzir na Baixa, Jorge Catarino diz esperar que a diferença se note daqui a três anos.
“Julgo que daqui a três anos se verá uma grande diferença comparando com 2008. Os cinco anos entre 2008 e 2013 vão ser extremamente importantes na mudança da Baixa”.

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