Noticia: Castelo de Almeida alvo de pesquisa arqueológica

>> quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Foi concluída mais uma campanha de escavações arqueológicas no castelo de Almeida, o primitivo dispositivo defensivo deste espaço de guerra multissecular. Os trabalhos decorreram entre os dias 19 de Julho e 13 deste mês.

As escavações inserem-se no projecto “O Castelo de Almeida: origem medieval, reformas manuelinas e reutilização moderna. Projecto de investigação e valorização arqueológica”. O responsável científico pelos trabalhos é André Teixeira, licenciado em arqueologia, mestre em História da Expansão Portuguesa e doutor em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Entre as descobertas mais relevantes há a destacar a identificação das sucessivas campanhas de reconstrução do recinto, com o reconhecimento de uma das antigas torres medievais e das estruturas de armazenamento de munições que estiveram na origem da sua destruição, bem como a recuperação de diversos objectos relacionados com os diversos contextos de guerra.

O projecto e as entidades envolvidas
A situação em que se encontra o importante monumento e a escassez das acções e estudos realizados levaram a Câmara Municipal de Almeida a promover um projecto de pesquisa arqueológica no castelo, que venha a suportar um programa para a sua requalificação urbanística e valorização patrimonial. Depois da realização de sondagens em 2007, realizam-se campanhas arqueológicas desde 2009.
O projecto desenvolve-se no quadro de um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Almeida (entidade financiadora) e o Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores. Este protocolo estabelece uma parceria visando o estudo, identificação e valorização do património histórico e arqueológico do concelho de Almeida, em particular da sua arquitectura militar medieval e moderna.
O projecto arqueológico no castelo de Almeida pretende ser, também, um espaço de formação em arqueologia, pelo que nele têm participado alunos de diversas universidades portuguesas. Na campanha deste ano marcaram presença sobretudo alunos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Objectivos científicos e patrimoniais
O projecto arqueológico visa cumprir objectivos científicos e patrimoniais de longo prazo.
Em termos científicos, pretende dar resposta a algumas questões, nomeadamente: Data de fundação do castelo e da própria vila, no âmbito do processo de povoamento ou repovoamento desta região da Beira Interior nos alvores da nacionalidade; Forma da fortificação medieval e possíveis melhoramentos no tempo de D. Dinis, coincidentes com a fixação definitiva da fronteira luso-castelhana; Forma de vida das comunidades que habitaram o recinto e o burgo na Idade Média e etapas político-militares de ocupação do espaço no contexto das guerras da segunda metade do século XIV; Natureza das obras inovadoras introduzidas no reinado de D. Manuel I pelo célebre arquitecto Francisco Danzilho; Adaptações durante a Idade Moderna, derivadas da perda de importância militar do castelo e construção da praça de guerra, nomeadamente a conversão em armazém de munições militares.
Em termos patrimoniais, os objectivos são: Limpeza global do monumento, através da remoção de entulhos contemporâneos sem contexto arqueológico; Definição da estrutura primordial do edifício, a fim de propiciar correctas acções de conservação; Reinterpretação e consolidação das estruturas internas deixadas pelas intervenções das décadas anteriores e descoberta de novas, através de limpezas superficiais e escavação em extensão; Recolha, classificação, estudo e restauro de materiais arqueológicos resultantes destes trabalhos, integrantes da emergente estrutura museológica municipal.
Monumento Nacional
O Castelo de Almeida está classificado como Monumento Nacional, a par das muralhas da praça-forte. Terá sido, muito provavelmente, o espaço fundador da Vila, o local de assentamento do primeiro núcleo de povoadores e o centro do poder político-militar até à Idade Moderna, permanecendo como um elemento primordial do aglomerado urbano até inícios do século XIX, quando uma monumental explosão o deixou em ruínas, no quadro da terceira invasão francesa. Foi um dos melhores exemplares em Portugal continental da arquitectura militar de finais da Idade Média e inícios da Idade Moderna, quando se procurou adaptar os velhos recintos defensivos aos novos desafios da arte da guerra, um processo documentado sobretudo nas fortalezas ultramarinas.
É um dos espaços centrais do actual núcleo urbano, o lugar cimeiro e referência na paisagem, o local para onde convergem algumas das principais ruas e a área de menor construção do espaço intra-muros, embora também uma das suas áreas menos valorizada.
Sendo um espaço primordial da história local, um exemplar assaz relevante de um tipo de arquitectura militar no contexto ibérico e um lugar central da vila histórica, o castelo de Almeida e a sua envolvente têm estado votados a grande abandono. As escassas e por vezes nefastas intervenções e a natureza dos estudos realizados, em que a arqueologia esteve ausente, não permitiram que a fortificação se constituísse como uma mais-valia na dinâmica patrimonial e cultural da vila histórica. O monumento permanece em ruínas, coberto de aterros e de alguma vegetação, num estado de conservação algo precário em sectores pontuais, com estruturas arqueológicas a descoberto sem qualquer protecção ou valorização e escassa informação disponível.

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